segunda-feira, 10 de março de 2014

Educação Escolar de Pessoas com Surdez

Educação Escolar de Pessoas com Surdez – Atendimento Educacional Especializado em Construção



A pessoa com surdez tem muitos obstáculos a transpor para realmente participar da educação escolar devido sua perda sensorial auditiva. Na antiguidade, os surdos eram considerados incapazes, segundo Aristóteles, só por meio da linguagem poderia desenvolver as faculdades intelectuais, logo a linguagem dava condição de humano. Segundo Damázio (2010), há toda uma potencialidade do corpo biológico e da mente que canalizam e integram os outros processos perceptuais, tornando essa pessoa capaz, como ser de consciência, pensamento e linguagem.

O problema da educação das pessoas com surdez, não pode mais ser focado nessa ou naquela língua, o que precisa ser repensada, é a eficiência,a  qualidade e às práticas pedagógicas que estimulem e favoreçam suas potencialidades advindas  de outros processos perceptivos. Damázio (2010),traz que:


“ As pessoas com surdez não podem ser reproduzidas ao chamado mundo surdo, com uma identidade e uma cultura surda. É no descentramento identitário que podemos conceber cada pessoa com surdez como biopsicossocial, cognitivo, cultural, não somente na constituição de sua subjetividade, mas também na forma de aquisição e produção de conhecimentos, capazes de adquirirem e desenvolverem não somente os processos visuais-gestuais, mas também de leitura e escrita, e de fala se desejarem” ( Damázio 2010.p. 08).


Uma das possibilidades para que essa educação aconteça de fato é a implantação na escola comum do AEE – Atendimento Educacional Especializado para pessoas com surdez por meio da Política Nacional de Educação Especial, numa perspectiva inclusiva, pois se trata de uma política que busca valorizar e respeitar o indivíduo em suas especificidades, mas que se igualam na convivência, na experiência, nas relações e nas interações, rompendo assim com o paradigma da dicotomização entre oralistas e gestualistas. Outro ponto importante também, é a obrigatoriedade dos dispositivos legais do Decreto 5.626 de 5 de dezembro de 2005, que “determina o direito de uma educação que garanta a formação da pessoa com surdez, em que a Língua Brasileira de Sinais  e a Língua Portuguesa, preferencialmente na sua modalidade escrita, constituam línguas de instrução, e que o acesso às duas línguas ocorra de forma simultânea no ambiente escolar, colaborando para o desenvolvimento de todo o processo educativo.” (DAMÁZIO; ALVES; FERREIRA, 2009, p. 09).

Dessa forma, o AEE para a PS, vem reinventar novas práticas pedagógicas pautada em romper com paradigmas excludentes do ensino comum, proporcionando ambientes educadores estimuladores, mediações simbólicas através do convívio e interações sociais, com professores especializados que elaboram e organizam o plano de aula, juntamente com o professor da sala de aula comum e o professor de Libras, levando em consideração suas singularidades, barreiras e potencialidades. Poker ( 2001) afirma:


“As trocas simbólicas provocam a capacidade representativa desses alunos, favorecendo o desenvolvimento do pensamento e do conhecimento, em ambientes heterogêneos de aprendizagem”.


São três os momentos didáticos-pedagógicos  conforme Damázio (2007), o AEE em Libras, AEE de Libras e o AEE para o ensino da Língua Portuguesa, todos acontecem no contra turno ao ensino comum. O AEE em Libras visa o aprendizado dos conteúdos curriculares antecipadamente ao do ensino comum, diariamente e preferencialmente por um professor surdo, são utilizados muitos recursos visuais e todo material que se faça necessário para sua compreensão. O AEE de Libras é realizado também preferencialmente por um professor surdo, deve ser planejado a partir do diagnóstico do conhecimento que o aluno traz da língua de sinais, com a aquisição e registro de termos científicos em sinais. O AEE para o ensino da LP, acontece na sala de recursos multifuncionais, é desenvolvido por um professor, preferencialmente, Licenciado em Língua Portuguesa que domine os pressupostos linguísticos e teóricos da mesma, assim como também sua organização e estrutura, buscando utilizar metodologias de ensino de segunda língua.

Sendo assim, a escola é o espaço onde devem ser criadas diferentes estratégias de aprendizagem que supram não somente as necessidades dos alunos surdos, mas também que contribua na melhoria da aprendizagem de seus pares. O AEE em parceria com o professor da sala regular bem estruturado propicia uma organização didática que contribuirá para a compreensão dos conceitos referentes aos conteúdos curriculares, levando o aluno com surdez a estabelecer relações e ampliar seu conhecimento acerca dos temas desenvolvidos em Libras e em Língua Portuguesa, facilitando sua escolarização e autonomia como cidadão.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

 DAMÁZIO, M. F. M.; FERREIRA, J. Educação Escolar de Pessoas com Surdez-Atendimento Educacional Especializado em Construção. Revista Inclusão. Brasília: MEC, V.5, 2010. p.46-57.
DAMÁZIO, Mirlene Ferreira Macedo; FERREIRA, Josimário de Paula. Educação Escolar de Pessoas com Surdez. In Fascículo 04: Abordagem Bilíngue na Escolarização de pessoas com Surdez. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2010. P.07-09.