Educação
Escolar de Pessoas com Surdez – Atendimento Educacional Especializado em
Construção
A pessoa com surdez tem
muitos obstáculos a transpor para realmente participar da educação escolar
devido sua perda sensorial auditiva. Na antiguidade, os surdos eram
considerados incapazes, segundo Aristóteles, só por meio da linguagem poderia
desenvolver as faculdades intelectuais, logo a linguagem dava condição de
humano. Segundo Damázio (2010), há toda uma potencialidade do corpo biológico e
da mente que canalizam e integram os outros processos perceptuais, tornando
essa pessoa capaz, como ser de consciência, pensamento e linguagem.
O problema da educação das
pessoas com surdez, não pode mais ser focado nessa ou naquela língua, o que precisa
ser repensada, é a eficiência,a qualidade
e às práticas pedagógicas que estimulem e favoreçam suas potencialidades
advindas de outros processos
perceptivos. Damázio (2010),traz que:
“
As pessoas com surdez não podem ser reproduzidas ao chamado mundo surdo, com
uma identidade e uma cultura surda. É no descentramento identitário que podemos
conceber cada pessoa com surdez como biopsicossocial, cognitivo, cultural, não
somente na constituição de sua subjetividade, mas também na forma de aquisição
e produção de conhecimentos, capazes de adquirirem e desenvolverem não somente
os processos visuais-gestuais, mas também de leitura e escrita, e de fala se
desejarem” ( Damázio 2010.p. 08).
Uma das possibilidades para
que essa educação aconteça de fato é a implantação na escola comum do AEE –
Atendimento Educacional Especializado para pessoas com surdez por meio da Política
Nacional de Educação Especial, numa perspectiva inclusiva, pois se trata de uma
política que busca valorizar e respeitar o indivíduo em suas especificidades,
mas que se igualam na convivência, na experiência, nas relações e nas
interações, rompendo assim com o paradigma da dicotomização entre oralistas e
gestualistas. Outro ponto importante também, é a obrigatoriedade dos
dispositivos legais do Decreto 5.626 de 5 de dezembro de 2005, que “determina o
direito de uma educação que garanta a formação da pessoa com surdez, em que a
Língua Brasileira de Sinais e a Língua
Portuguesa, preferencialmente na sua modalidade escrita, constituam línguas de
instrução, e que o acesso às duas línguas ocorra de forma simultânea no
ambiente escolar, colaborando para o desenvolvimento de todo o processo
educativo.” (DAMÁZIO; ALVES; FERREIRA, 2009, p. 09).
Dessa forma, o AEE para a PS,
vem reinventar novas práticas pedagógicas pautada em romper com paradigmas
excludentes do ensino comum, proporcionando ambientes educadores estimuladores,
mediações simbólicas através do convívio e interações sociais, com professores
especializados que elaboram e organizam o plano de aula, juntamente com o professor
da sala de aula comum e o professor de Libras, levando em consideração suas
singularidades, barreiras e potencialidades. Poker ( 2001) afirma:
“As
trocas simbólicas provocam a capacidade representativa desses alunos,
favorecendo o desenvolvimento do pensamento e do conhecimento, em ambientes
heterogêneos de aprendizagem”.
São três os momentos
didáticos-pedagógicos conforme Damázio (2007),
o AEE em Libras, AEE de Libras e o AEE para o ensino da Língua Portuguesa,
todos acontecem no contra turno ao ensino comum. O AEE em Libras visa o
aprendizado dos conteúdos curriculares antecipadamente ao do ensino comum,
diariamente e preferencialmente por um professor surdo, são utilizados muitos
recursos visuais e todo material que se faça necessário para sua compreensão. O
AEE de Libras é realizado também preferencialmente por um professor surdo, deve
ser planejado a partir do diagnóstico do conhecimento que o aluno traz da
língua de sinais, com a aquisição e registro de termos científicos em sinais. O
AEE para o ensino da LP, acontece na sala de recursos multifuncionais, é
desenvolvido por um professor, preferencialmente, Licenciado em Língua
Portuguesa que domine os pressupostos linguísticos e teóricos da mesma, assim
como também sua organização e estrutura, buscando utilizar metodologias de
ensino de segunda língua.
Sendo assim, a escola é o
espaço onde devem ser criadas diferentes estratégias de aprendizagem que supram
não somente as necessidades dos alunos surdos, mas também que contribua na
melhoria da aprendizagem de seus pares. O AEE em parceria com o professor da
sala regular bem estruturado propicia uma organização didática que contribuirá
para a compreensão dos conceitos referentes aos conteúdos curriculares, levando
o aluno com surdez a estabelecer relações e ampliar seu conhecimento acerca dos
temas desenvolvidos em Libras e em Língua Portuguesa, facilitando sua
escolarização e autonomia como cidadão.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
DAMÁZIO, M. F. M.;
FERREIRA, J. Educação Escolar de Pessoas
com Surdez-Atendimento Educacional Especializado em Construção. Revista
Inclusão. Brasília: MEC, V.5, 2010. p.46-57.
DAMÁZIO, Mirlene Ferreira
Macedo; FERREIRA, Josimário de Paula. Educação Escolar de Pessoas com
Surdez. In Fascículo 04:
Abordagem Bilíngue na Escolarização de pessoas com Surdez. Fortaleza:
Universidade Federal do Ceará, 2010. P.07-09.
